Estudante mata dez pessoas em escola da Finlândia e depois se suicida. Sente o déjà-vu? Pois você não está enganado. O que é manchete mundo afora na manhã de hoje já é tema recorrente nos jornais há um bom tempo.
Não precisa ir muito longe para essa sensação de repetição se comprovar. Ainda em novembro de dois mil e sete, outro adolescente da Finlândia havia promovido uma chacina semelhante. Pekka-Eric Auvinen, 18 anos, matou oito pessoas antes de cometer suicídio, totalizando apenas uma morte a menos se comparada com o caso mais atual.
Alguns dias atrás, o estudante Matti Juhani Saari, de 22, havia posado para um vídeo publicado no web-site You Tube, com uma camiseta estampada com os dizeres “humanity is overrated” (a humanidade está ultrapassada). Nele, praticava tiros com o revolver que usaria na matança de hoje. A polícia já havia entrado em contato com o rapaz ontem (dia 22), por conta do vídeo que circulava na internet, mas não encontrou motivos fortes o suficiente para deter o estudante, que possuía um porte temporário para a sua pistola.
A violência com os outros e consigo mesmo é freqüente no dia a dia entre os jovens nas grandes cidades, independente da classe econômica. A cada número X de meses a situação se repete, de forma mais ou menos semelhante, em algum lugar do globo. Problemas psicológicos, tais como, abandono dos pais, deslocamento social, abuso por terceiros e crise de stress gerada pela pressão exacerbada por sucesso no mundo contemporâneo, são apontados por especialistas como fortes sementes de desvios emocionais graves.
A sétima arte retrata algumas dessas incursões de ódio, raiva e matança suicida que tomam conta da vida de adolescentes problemáticos. Elefante, filme de 2003 de Gus Van Sant, retoma, em atuação, a tragédia que ficou conhecida como “Massacre de Columbine”, onde dois estudantes levaram um arsenal de guerrilha para a escola em 1999. Antes, o filme de Michael Moore, Tiros em Columbine (2002), já havia vencido o Oscar de melhor documentário abordando a liberdade para as armas nos EUA e o fatídico episódio dos adolescentes de Columbine.
Por trás desses atos, estão muitos jovens bem nascidos que, apesar de ocuparem nobres níveis de classe econômica e estudarem em bons colégios, ainda sim, vivem em um mundo de pressões e exigências demasiadas que culminam em atitudes de loucura.
Sandro Barbosa do Nascimento, 22, não tinha a mesma boa vida dos dois jovens Finlandeses ou dos adolescentes de Columbine, mas foi também vítima de pressão social cruel e implacável. Vítima da antiga chacina da Candelária, drogado, desempregado, sem perspectiva alguma de futuro e com a tragédia do abandono seu pai e o presenciamento do assassinato de sua mãe ainda na memória, tinha uma vida que pode ser classificada como intensamente trágica. Carioca, é autor do episódio que ficou conhecido como o “Seqüestro do Ônibus 174”, nada mais que fruto do ódio e do medo que a sociedade semeou nele durante toda uma vida como mais um “invisível social”, desprovido de oportunidades e à margem de uma vida digna.
Essa tragédia também já rendeu um documentário premiado, “Ônibus 174”. Agora vira filme de ficção, como mais uma tentativa de melhor explorar o psicológico do autor do atentado. “Última Parada – 174” ainda não estreou em circuito nacional, e teve apenas uma semana de exibição em um cinema em Jundiaí, para que, assim, pudesse ser representante nacional na corrida para o Oscar 2009.
Os filmes nos ajudam a entender algumas das motivações desses adolescentes, mas não dão conta de efetivamente explorar a complexidade sentimental que os levam a tal atitude extremada de raiva e ódio, como uma chacina na escola. A raiva é um sentimento bom e ruim, mas que se acumulado ao extremo em uma mente instável, torna-se uma bomba relógio esperando o último tac.
Nenhum país está livre disso, por mais desenvolvido que seja. Nenhuma classe social, por maior ou menor que sejam as dificuldades enfrentadas. Infelizmente essa não será a última manchete que veremos de chacina promovida por estudantes em escolas. Assim como um bom filme de comédia rende uma segunda parte, essa é uma tragédia que renderá mais déjà-vus. E a arte segue imitando a vida... ou seria o contrário? Seja como for, ad infinitum.
Augusto Conter Filho