quarta-feira, 23 de abril de 2008

Cultura: a gente vê por aqui? (destinado ao debate da cultura local)

Em Ponta Grossa adoram dizer que não há nada o que fazer. Cultura acessível a todos sempre foi uma necessidade de qualquer política de gerenciamento governamental. Há quem diga que inexistem projetos culturais em Ponta Grossa. Essa afirmação constitui uma falácia que aos poucos vai perdendo força perante a comunidade princesina. A cidade nunca esteve tão agitada culturalmente como hoje, seja por iniciativas privadas ou públicas.

O problema não é falta de opções. Existe coisa errada? Sim, e elas devem ser criticadas! Não pela crítica em si, mas buscando o aprimoramento. Um exemplo é a Conferência Municipal de Cultura. É dever da prefeitura realizar anualmente a conferência a fim de definir as diretrizes e o calendário cultural público da cidade. No entanto a participação é pífia: de dez a quinze pessoas por sessão. Isso reflete também a falta de divulgação. Em uma cidade com 300.010 não é possível que apenas seja essa média de pessoas que se interesse pelas discussões que nem são generalistas, mas sim, específicas para cada área: cinema, música, escolas de samba, literatura, etc.

Exemplo da ebulição cultural atual pode ser listada em eventos recentes. Semana passada os cantores do grupo Vocal Tempo, de Cuba, demonstraram talento ao representar instrumentos de uma orquestra através somente de dotes vocais no grande auditório da UEPG centro. Essa apresentação foi gratuita aqui e tarifada em muitas outras cidades pela qual o grupo está passando no Paraná e no estado de São Paulo. A isenção de entrada foi possível graças a uma longa relação de amizade do SESC local com professores e funcionários da universidade. Graças a um simples trabalho de cartazes e flyers, espalhados em lugares estratégicos da cidade, o auditório ficou pequeno, com pessoas abarrotando os corredores e entrada. Quem foi não esquece: um espetáculo formidável, ovacionado de pé pelos presentes.

Nessa semana a Caravana Instrumental, projeto promovido pelo Instituto Votorantim, traz duas apresentações e dois workshops musicais a cidade também de forma gratuita. Nessa terça (22) foi a vez do grupo mineiro UAKTI, em atividade desde 1978, que apresentou no Cine Teatro Ópera o belíssimo espetáculo "21". Também na quarta (23), o grupo ministra uma oficina de improvisação cultural na Usina do Conhecimento. A segunda atração é a Orquestra de Contrabaixos Tropical, grupo erudita que faz de duos até quintetos de baixo se apresentar com um repertório de composições originais e releituras para clássicos da MPB nacional nesta quinta (24), no Ópera novamente. A Orquestra também oferece uma oficina de graça no Conservatório Musical Maestro Paulino Martins Alves sobre "Música coletiva como abordagem da orquestração" no mesmo dia, as dez da manhã.

Mesmo com alguns retrocessos, como o fechamento da Estação Arte, ainda há espaço de exposições artísticas perenes, como a Proex, Museu dos Campos Gerais e a Casa da Cultura. Iniciativas no campo da sétima arte também há de sobra. O projeto Tela Alternativa atualmente está no seu quarto ano consecutivo, o segundo no Ópera. Também de graça – cobrando apenas cinco reais dos participantes inscritos que optarem pelo recebimento do certificado de carga horária – o projeto nunca atraiu tanta gente como atualmente. Em formato semelhante, ainda há o Cine Arte. Realização do Jornal da Manhã busca apresentar ao público e fomentar discussões a respeito da produção de cinema no Brasil através da apresentação de curtas e longas-metragens, entrada franca.

Entre os dias 25 de janeiro e 1º de fevereiro, vale lembrar que a oficina itinerante do Cine Tela Brasil esteve na cidade para ensinar, mais uma vez sem custo algum, técnicas do fazer cinematográfico para os interessados inscritos com mais de 16 anos, dando ainda uma pequena ajuda financeira com alimentação e pagamento de transporte coletivo urbano.

Existe desinteresse pela população em reivindicar a eficiência desses espaços que legitimamente lhe pertencem. Se não há cartazes, mandem e-mails! O que cabe a prefeitura cobrem postura no sentido de divulgação, o que cabe a instituições privadas também. Nem tudo acontece como deveria e não há como esperar vir de mão beijada. O envolvimento da população nas atividades culturais de uma cidade passa do lazer e do agregar conhecimento, é questão de cidadania.

texto: Augusto Conter

Um comentário:

Pri disse...

Eu tenho acompanhado a Conferência de Cultura e fiquei espantada pela baixa frequencia de pessoas. Realmente não há muita procura pelos eventos culturais da cidade.E dizer que nada acontece é facil, mas muita coisa bacana têm movimentado Ponta Grossa. O correto é ir atrás se informar, participar e não esperar que a coisa venha pronta na sua mão, pois a agenda cultural no site da prefeitura por exemplo, está desatualizada faz algum tempo. Vi que falta um pouco de discussão de uma politica de cultura em Ponta Grossa. Os debates da Conferência são produtivos no aspecto da cobrança e das propostas para melhorar a questão da cultura, porém não funciona quando não participamos.

Priscila Borges