Lupaluna, o festival auto-denominado “o maior evento jovem de nossa história”, passa longe disso. Mas querendo ou não trouxe a Piraquara (whataheel?), cidade da região metropolitana de Curitiba, a maior diversidade de estilos de música em um evento de grande porte. Normalmente nada desse blá blá blá e cerco de circo pop me interessaria. No entanto a coisa muda de figura ao saber que no domingo teria um palco alternativo com as apresentações de Mundo Livre S/A e Nação Zumbi. Além dos curitibanos do Relespública abrindo o palco principal. E lá fui eu conferir o Planeta Atlântida paranaense, ou, ainda, o Lollapalooza paraguaio. Quanto à organização do evento sou só elogio! A entrada ocorreu de forma super organizada, rápida e segura, com filas separadas para cada gênero de sexo e a verificação eletrônica dos ingressos. Lá dentro uma mega-estrutura: inúmeras barracas de lanche terceirizadas por todos os lados, áreas de descanso cedidas pelos patrocinadores do evento, decoração elegante e muitas e muitas cabines de banheiros químicos (ainda por cima decentes!) espalhadas pelo complexo. A grade de horários funcionou corretamente, com cada atração começando pontualmente! Coisa que o TIM Festival 07 de Curitiba (Pedreira Paulo Leminski) não conseguiu fazer - e nas versões SP e Rio também não, pelo que me contam blogueiros de outras regiões do país – com pessoal perdendo as primeiras atrações pela abertura tardia dos portões, bur(r)ocracia e trocas de palco lentíssimas. Enfim, mais um ponto pra organização do festival estreante.
Os shows
Relespública abriu o festival
Vamos ao que interessa! Sábado (12/04) estava com uma escalação horrível! Embora eu tivesse entrada free, fui só no domingo (13). Tentei conferir um pouco de tudo. Incluindo CLAUDINHA LEITE e ARMANDINHO! Até que cinco minutos de cada deu pra agüentar. Mas foram os curitibanos do Relespública que inauguraram os shows de domingo do palco central. Embora tenham tocado pouquíssimo tempo (menos de 45 minutos) agitaram todos os presentes com versões para sucessos clássicos de Raul Seixas e Mutantes e muitas músicas próprias que mesmo não conhecidas pelo grande público instauraram um estado coletivo de dança e descontração.
Depois do fim do set do aplaudidíssimo Relespública foi uma espera interminável até as 19:45 e o Mundo Livre S/A. Pausa para conhecer o complexo, descansar nos sofazinhos, escutar um eletrônico aqui, um Armandinho ali, gastar 3 contos em cerveja...
Não foi uma espera em vão. Fred Zero Quatro e trupe mostraram o porquê a banda consegue sobreviver a 24 anos no independente nacional. É com uma receita simples: qualidade. Isso o grupo tem de sobra e não só nas composições em estúdio. O show foi altamente dançante e contagiante, tanto que troquei o mais-ou-menos Skank por eles sem nenhum peso na consciência. Show intimista com platéia tranqüila, sem enfrentar multidões, com espaço pra dançar e chegar junto ao palco. Maravilha.
Fred Zero Quatro à frente do Mundo Livre S/A
Rock, maracatu, samba e psicodelia
“(...) Em cima do guarda-chuva, tem a chuva tem a chuva,
Que tem gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las.”
O melhor ainda estava por vir. Nação Zumbi sem Chico Science ainda resgata alguns dos sucessos do consagrado e saudoso ex-líder. No entanto é outra banda. Outra banda, pois assume uma postura muito mais rockeira. E, particularmente, não deixa saudades quanto a primeira formação. Ao vivo essa fome caótica por guitarras e baixo estourado é mais forte do que nunca. Quando Jorge Du Peixe brada que seu maracatu pesa uma tonelada, dá até pra acreditar que ele fala pra valer, literalmente. Lúcio Maia não poupa nos efeitos e solos ruidosos e os graves da percussão e do baixo de Alexandre Dengue foram meticulosamente estourados pelos subwoffers que se encontravam à frente da platéia, ao mesmo nível. Quase deu pra ficar surdo e não deu pra ficar parado.
Perto do fim do show uma chuva que já ameaçava desaguar desde o fim da tarde vem forte e com bastante vento. O teto abre uma brecha entre o palco e platéia, formando uma “ducha” bem sobre os subwoofers que anteriormente relatei estarem em baixo do palco, em frente à platéia. O vocal da Nação ameaça terminar o show com No Olimpo. No entanto a galera pede bizz e ele volta apontando para a bolha de água que já se formava sobre a sua cabeça e diz: “enquanto não estourar a gente continua tocando”. Foi aí que veio o hit Maracatu Atômico. Bem no finzinho da música não é a bolha de água que fura a tenda, mas sim, o fundo da barraca que cede e água invade o palco com força e velocidade auxiliada pelo vento. Os roadies se apressam em proteger os equipamentos, mas a banda ainda termina a última música na íntegra antes de se retirar. Logo após, os organizadores passam a furar cuidadosamente a bolha de água do teto para que a água escorra lentamente, sem maiores conseqüências para público e equipamentos. Enquanto todos na platéia gritam sorridentes: “estoura! Estoura! Estoura!”. Inesquecível.
texto e fotos: Augusto Conter
Nenhum comentário:
Postar um comentário